"Nostalgia da luz": as inquietações da História, da memória e do tempo presente.
- Fábio Monteiro
- 1 de mar. de 2024
- 2 min de leitura
RESUMO: O presente artigo é um texto que escrevi para a contracapa do livro "'Nostalgia da luz': as inquietações da História, da memória e do tempo presente", publicado pelo meu colega de pesquisa Samuel Torre Bueno em 2022 (Ed. Paco). O livro foi resultado de sua dissertação de mestrado que partiu dessa obra de 2010 de Patricio Guzmán para analisar seus argumentos históricos sobre o Chile contemporâneo.
O presente livro vem em boa hora ao colocar os estudos de História e Cinema em diálogo com a história do tempo presente do Chile. Partindo de um diálogo com o que há de contemporâneo nos estudos a respeito da cinematografia de Patricio Guzmán na América Latina, “Nostalgia da Luz: as inquietações da História, da Memória e do Tempo Presente” traça um panorama desde a redemocratização chilena cotejando os estudos relativos à justiça de transição, Memória e História e as reflexões historiográficas em torno do chamado estallido social de outubro de 2019.

Pessoas, paisagens; esquecimento e lembrança; humanidade e barbárie estão entre os elementos problematizados pela poética de Guzmán
Rastreando a história chilena desde o governo de Salvador Allende (1970-1973), o cinema de Patricio Guzmán faz vibrar os sedimentos das memórias coletivas em torno do regime de exceção pinochetista através do ponto de vista autoral do realizador, além de suscitar os debates sobre as permanências institucionais que insistem em soldar uma sombra de esquecimento e, como afirma o Samuel Bueno, desmemorialização dos temas ligados às violações dos direitos humanos.
A partir dos anos 2000, a atuação de Patricio Guzmán também tem se desdobrado em meio aos workshops e seminários realizados, principalmente, na Europa, América do Norte e América Latina contribuindo assim não só para a formação de novos profissionais, mas sobretudo para a extensão da crítica cinematográfica e dos debates acerca dos fundamentos teóricos e práticos do cinema documentário. A produção literária guzmaniana que acompanha a projeção de seus filmes desde os anos setenta tem sido atualizada à luz das novas reflexões estéticas trazidas pelos filmes realizados a partir de 2010.
Dessa maneira, os ecos da trilogia A Batalha do Chile (1975-1979) ainda se fazem presentes no contemporâneo, assim como o seu engajamento social junto dos testemunhos que pautam os filmes Chile, memória obstinada (1997), O caso Pinochet (2001) e Salvador Allende (2003). É frente a essa fortuna crítica que o presente livro pretende se inserir nos estudos de História e Cinema: a obra coteja de maneira crítica os traços literários do próprio realizador junto do arcabouço de pesquisas contemporâneas tendo em vista aguçar a fruição de Nostalgia da Luz.
O pesquisador Luís Villaça é outro pesquisador de referência sobre essa obra de Pato Guzmán
As observações a respeito dos filmes da virada do século XX para o XXI pontuam as considerações sobre o manejo dos dispositivos retóricos existentes em Nostalgia da Luz capazes de indicar o estilo guzmaniano. É através da mobilização desse arcabouço que a presente obra dilata os estudos de História e Cinema no Brasil e instiga seus leitores e leitoras a tomar os filmes documentários como uma janela de compreensão do mundo.
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