Cinema documentário: gênero ou linguagem?
- Fábio Monteiro
- 22 de jul. de 2022
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de out. de 2023
RESUMO: O presente ensaio foi especialmente escrito para o site "Cinemascope" (21/04/2021) a fim de levantar um debate a respeito das extensões conceituais do filme documentário.

"Jogo de cena" (2007), de Eduardo Coutinho: uma obra de arte quando se trata de pensar os limites e as fronteiras do cinema documentário
E então, documentário é um gênero ou uma linguagem cinematográfica? Eis uma questão que sempre causa polêmica nos cursos e encontros de que participo, principalmente nas redes sociais. Aparentemente, a questão soa como um dilema quase moral: ou uma coisa ou outra, certo? Mas, quem sabe seja possível acessá-la através de um viés histórico e conceitual.
Vale lembrar que o termo “documentário” surgiu lá nos idos da década de 1920 para apresentar o filme “Nanook of the north”, de Robert Flaherty. Tal como desenvolvemos em nosso Curso de Introdução ao Cinema Documentário, o termo chegou ao meio cinematográfico emprestado das recém-surgidas Ciências Humanas e Sociais. Dessa maneira, não seria possível afirmar, por exemplo, que os irmãos Lumière faziam “cinema documentário”, pois o termo veio a posteriori. Assim, o termo “documentário” apresentou uma clivagem nas imagens cinematográficas: a partir de então, estaríamos diante daquelas ficcionais e haveriam outras não ficcionais.
Desde então, a fortuna crítica em torno do cinema documentário registra que ninguém, nenhum realizador ou realizadora, de fato respondeu com determinação à resposta original que anima esse artigo. Vale lembrar que, enquanto André Bazin fundou a tradição realista da teoria cinematográfica, Metz foi decisivo para forjar um cenário interdisciplinar que leu o cinema como linguagem, ou seja, como que dotado de regras e semânticas próprias.
Sendo assim, chegamos ao século XXI contando com um grande arcabouço de imagens e de referências teóricas e conceituais. De um lado temos os aportes da Teoria da Comunicação e da Semiótica, a exemplo de Roger Odin que lê o cinema através de funções “ficcionalizantes” e “documentarizantes”, o que los leva a compreender os filmes pelos seus efeitos sobre os espectadores. Por outro lado, no rastro da História e da Teoria Social, as âncoras continuam sendo a leituras das imagens a partir da sua concretude material, econômica e social. Agora, localizados ambos pontos de vista, a pergunta resta em seus próprios braços: como você prefere interpretar os filmes não-ficcionais?
Palavras-chave: Documentário; Cinema; Teoria de cinema; História do Cinema; Ficção;
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